Cristo e o não romantismo da Cruz!
A crueza da dor, do sofrimento e da morte do Filho de Deus.
Desde a era
apostólica, e antes dela, muitos empreenderam a tarefa de falar a respeito
daquele que foi e é chamado Filho do Deus vivo, todavia, não foram muitos (refiro-me
aos mais notáveis adeptos do cristianismo) os que falaram de forma realista
aquilo que o Cristo sofreu, o quanto sangrou e quanta dor sentiu até que fosse
morto. Não é tarefa fácil ouvir a respeito da realidade da cruz, pois é uma
mensagem que transtorna a facilidade que o homem tem para criar ilusões diante
de si. Definitivamente, a cruz de Cristo não é nem de longe romântica e doce,
mas carrega em si a evidência da miséria humana e a amargura a que o
Todo-Poderoso, Deus Filho, sujeitou-se.
Escrevo-vos
este texto não com pretensão de fama, mas com a de desfazer essa imagem irreal
que criaram em torno do sofrimento do Desejado das nações. Tenho por motivação
de escrever esse texto o que o meu saudoso pastor, Gilberto Ewald, disse há um
tempo. Mas afinal, qual é a realidade?
Essa
realidade é aquela relatada nos evangelhos. Convém-nos aqui não falar muito a
respeito da pureza de Cristo, que nunca conheceu o pecado, como diz a
Escritura: Aquele que não conheceu pecado (2Coríntios 5:21), e em como a
alegria dele esteve tão somente em fazer a vontade do Pai (Hebreus 1:9). Ele
sempre aborreceu a iniquidade (Salmo 139:21; Mateus 23:33; Hebreus 1:9), não
deixando dúvidas no que se refere a sua incapacidade de vir a ser infectado
pela desobediência. Cristo sempre foi 100% isento de pecado, 100% puro, 100% em
comunhão com o Pai, mas, mesmo assim, houve uma coisa que foi capaz de lhe
deixar agoniado, que, como vemos em Lucas 22:44, foi o suportar sobre si o peso
do pecado (que não era seu, visto que era impecável).
Durante
todo o seu tempo na terra, Jesus jamais disse alguma palavra que desse a
entender que Deus estava longe dele, porém, nos seus últimos momentos de vida,
ele exclamou em alta voz: Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste? (Marcos 15:34). Que é isso senão aquilo que o
profeta disse: as vossas iniquidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que não vos ouça (Isaías 59:2)? Jesus tinha convicção de
que a sua cruz tinha o poder de levar os homens a Deus, mas também tinha
certeza de que a sua cruz, visto que estava carregando os pecados do mundo, o
afastaria de Deus até a morte. Talvez eu seja insensível, mas essa história em
nada se assemelha a um conto romântico, pois não vemos flores, não vemos belos
cenários, não vemos carícias e nem ouvimos doces palavras, mas vemos homens
furiosos violentando um inocente, vemos blasfêmias e todo tipo de ofensa, vemos
sangue, vemos dor e vemos o Rei coroado com afiados espinhos. Diga-me um
momento, desde o Getsêmani até a morte, em que cabe pôr os fatos narrados em
suave sintonia com notas musicais, em que é possível harmonizar a mensagem da
cruz com o romantismo humano, falível e dependente de sensações.
Que
diríamos do que diz a Lei de Deus: o
pendurado é maldito de Deus (Deuteronômio 21:23), que Paulo reitera
poderosamente, dizendo: Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito:
Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro (Gálatas 3:13)? Não é
outra coisa senão a descrição do verdadeiro significado do que Jesus estava
suportando desde o Getsêmani: a opressão do pecado. Foi isso que fez com que o
seu suor estivesse como grandes gotas de sangue (Lucas 22:44).
Cabe
ressaltar que o trajeto agonizante de Cristo até a cruz, digo, até a morte, não
é nada menos que amor, em sua total pureza e perfeição, que não é capaz, em
hipótese alguma, de subtrair algum elemento da realidade com o objetivo de
atingir a sentimentalidade alheia. Nessa forma, e levando o atual sentido de
romantismo até as últimas consequências, ou seja, como sendo capaz de criar uma
doce realidade mesmo que a custo da modificação dos fatos concretos, vemos uma
potencial diferença entre o amor, de Cristo, e esse referido melodrama
romântico. Enquanto este é puramente sentimental e, por consequência, temporal,
aquele transcende os sentimentos, ultrapassando os limites da matéria.
Por
isso e por mais, entendemos que a Escritura não camufla a mensagem da cruz
dentro de um denso pano preto, mas expõe cruamente o seu significado.
Breno A. Souza.
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2 comentários:
Estive a ver e ler algumas coisas, não li muito, porque espero voltar mais algumas vezes,mas deu para ver a sua dedicação e sempre a prendemos ao ler blogs como o seu.Eu acredito que o sofrimento maior de Jesus foi quando nossos pecados caíram sobre Ele, para mim torna-se difícil imaginar este tão grande sofrimento ao ponto do Pai se ter afastado, gosto da sua mensagem muito explicita e bem organizada. Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante, e se desejar deixe um comentário. Abraço fraterno.António.
Exatamente o que eu penso , estava eu meditando sobre isso,como temos romantizado a mensagem da cruz e nos esquecendo da responsabilidade que temos sobre essa realidade, romantizar a cruz nos faz negligenciar a nossa responsabilidade e menos vitimar diante dos problemas e dificuldades, gerando em nós a falta de maturidade e de o quanto os sofrimentos são necessários para nosso crescimento.
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